A propósito de história e de inaugurações…

Há dias dei comigo a pensar como deverá ser difícil a tarefa de quem, historiador ou não, se dispõe a pôr no papel a história de uma instituição, de uma personalidade, de uma região, de uma época, de um acontecimento, seja do que for.
À natural dificuldade de pesquisa, que obriga à consulta de arquivos, de jornais da época, se os havia, e de tantos outros meios, acresce sempre a necessidade de trabalho adicional, quando as informações recolhidas são contraditórias, o que deverá acontecer com frequência.
Se calhar não nos preocupamos muito, talvez mesmo nada, com isto. Temos o problema da falta de emprego, das contas para pagar, do deficit e de tantas outras coisas que consideramos muito mais importantes. Além do mais, pensamos nós que os registos da história são obrigação dos historiadores, não nossas.
Mas podemos, com um bocadinho de cuidado, contribuir para que, no futuro, os historiadores tenham a vida facilitada.
Deixo aqui alguns casos a evitar, registados, uns, em 2009 e outro já em 2010:
- Anuncia-se a comemoração de décimo aniversário da disponibilização ao público de determinado serviço, quando este existe desde 1989;
- Coloca-se em cartaz que a estrada que ali vai nascer ligará Pombal a Vila Velha de Ródão, quando a via já existe há quinze anos, precisando, isso sim, de ser reabilitada;
- Anuncia-se que determinada estrutura pública funciona há cinco anos, quando a sua inauguração foi há mais de vinte;
- Nas instalações sanitárias públicas da freguesia consta que as mesmas foram feitas em 2009, quando elas existem também há mais de vinte anos, sendo certo que foram agora melhoradas de forma significativa.
Vejamos a confusão:
- O serviço público existe desde 1999 ou 1989?
- A estrada foi feita em 1994 ou vai nascer agora em 2010?
- A estrutura pública funciona há cinco ou há vinte anos?
- As instalações sanitárias foram feitas em 2009 ou há mais de vinte anos?
Se tivermos o cuidado de dizer correctamente o que se inaugura ou comemora – obra nova, obra por iniciar, ampliação, melhoramento –, no futuro tudo será mais fácil de entender.
Não custa nada sermos rigorosos…ou não nos dá jeito?
18-01-2010
Fernando Almeida Santos