“GOVERNO PRESENTE” EM ANSIÃO

Muito se tem falado nos últimos tempos do lançamento a concurso das obras do IC8 e do IC3, duas importantes vias que atravessam o concelho de Ansião. Não se põem quaisquer dúvidas quanto à necessidade de tais obras, bem pelo contrário, a sua execução só peca por tardia. A propósito, convém recordar que o último troço do IC8, no sentido de Castelo Branco – Madrid, que era o destino anunciado, ficou por Proença-a-Nova e foi inaugurado há vários anos, já não sabemos bem quantos. Sabemos que foi inaugurado no tempo em que o actual Presidente da República ocupava o cargo agora exercido pelo Eng.º Sócrates.
No último ano, com pompa e circunstância que este país à beira mar plantado não suporta, foram feitas várias cerimónias na região do Pinhal Interior em que membros do Governo, precedidos de um numeroso staff, onde se destacavam as saias curtas dos elementos femininos, se mostravam perante a comunicação social a anunciar a abertura de concurso destas e doutras obras rodoviárias na região do Pinhal. A forma como na altura se esbanjou dinheiro com aquelas cerimónias, não se aproveitando os meios que as autarquias podiam disponibilizar para o efeito, deu lugar à indignação de muita gente que com dificuldade compreende que os impostos que vai pagando sirvam para estes desperdícios.
A indignação cresceu com as noticias que foram surgindo dando conta que os concursos abertos tinham sido anulados, não se sabendo bem porquê, e com o anúncio de que, no caso do IC3, a sua futura utilização seria paga pelos utentes, em contraste com tantas outras situações por esse país fora.
Mas para que a indignação fosse maior, eis que o senhor primeiro-ministro, com o estilo que lhe conhecemos, resolve presentear a pacata gente do Pinhal com mais uma cerimónia, porventura, com maior pompa e circunstância.
Assim, no passado domingo dia 10 de Janeiro, ele próprio esteve em Ansião para anunciar, mais uma vez, o início das mesmas obras anunciadas há um ano. Não sabemos, – não estivemos lá para ver – se a indumentária do staff feminino foi a mesma. Estamos em crer que não, pois o local e o estado do tempo não aconselhavam a repetição O que nós sabemos é que mais uma vez os meios disponíveis e disponibilizados no Parque Empresarial do Camporês, nomeadamente o Centro de Negócios, que reúne todas as condições para o efeito, não foram utilizados, já que a cerimónia decorreu numa tenda montada propositadamente a poucos metros daquele edifício, com custos adicionais de alguns milhares de euros para o erário público, que se poderiam poupar, contribuindo, desta forma, com o exemplo que deve vir de cima, para a diminuição do tão falado deficit das contas públicas.
Estaremos atentos para ver se os nossos autarcas estarão disponíveis para denunciar esta situação. É que convém não esquecer que os detentores dos cargos públicos têm a obrigação de ser rigorosos na administração dos bens que, sendo do Estado, não são seus mas dos contribuintes…que somos todos nós. (Todos não seremos...mas isso são outras guerras).
Por fim, resta-nos esperar que as obras se iniciem o mais rápido possível e reter das palavras do senhor primeiro-ministro a afirmação de que elas muito irão contribuir para tirar do esquecimento terras como Alvaiázere, Ansião, Oleiros, Vila de Rei e outras, das quais disse raro se ouve falar, sendo de admitir que, em sua opinião, se trata de uma região, que tem sido esquecida pelos poderes públicos, com rendimentos bastante abaixo da média nacional, sendo também por isso legítimo concluir que o Governo não pensa instituir nessas vias, nomeadamente no IC3, custos para os seus utilizadores, decisão que, a ser tomada, corresponderá não a um favor mas tão somente a um acto de justiça.
13-01-2010
Fernando Almeida Santos